domingo, outubro 31, 2004

Eu deixo de ser do mundo, Fernanda. Deixo de pertencer à ordem pré-estabelecida, aos padrões adquiridos sem se perceber, ao bom funcionamento do inconsciente coletivo moldado para dar a ilusão de segurança à sociedade e a seus membros, moldado pra evitar imprevisibilidades num sistema com medo do risco.
Eu me transformo no não padrão que assusta, num certo sentido, as pessoas e as repele por não querer lidar com uma situação desconhecida, não prevista na organização da sua personalidade em sintonia com a sociedade, com os padrões, sejam eles bons ou ruins, que a sociedade transmite para seus membros.
E esses padrões precisam ser perpetuados para o "bom andamento social" e a aceitação das pessoas pelo meio em que vivem. E quando dão de cara com o desconhecido, com o não previsto, morrem de medo do que pode acontecer, pq é algo que eles não foram preparados para conhecer. Nem pra enfrentar.
E se tenta a todo custo se afastar disso, mesmo inconscientemente. Inventa desculpas para si mesmo, projetando seus próprios defeitos nesse objeto não identificado. Os defeitos que são aceitos pelos padrões sociais, os defeitos necessários para se enquadrar. Você projeta os seus próprios o acusando de tê-los, mesmo quando se dá prova do contrário.
Não que eu não os tenha, claro que tenho. Mas os projetados em mim, são o reflexo dos defeitos dos outros. E projetam em mim para eu me tornar mais "conhecido" uma matéria para a qual a mente está mais preparada. Mas, lá no fundo, sabe que não sou assim.E mesmo assim, o cérebro dos membros desse padrão social me rejeita. Afastam-se. Acusando-me de algo que foi criado por eles mesmo.
E eu me torno objeto de repulsa por situações criadas pelos que tem dificuldade em me "aceitar" por coisas criadas por essas mesmas pessoas... Criam a demanda pra depois ter uma desculpa, um respaldo, mesmo que frágil, pra poderem me rejeitar conscientemente... Entende? Por não conseguirem me "absorver" criam uma situação, fazem de tudo para que essa situação se torne verdade, pelo menos nas suas, fazem de tudo pra acreditar piamente nessa situação criada por elas próprias pra depois poderem rejeitar com "a consciência limpa", com "fatos concretos", criados diretamente pra se ter uma desculpa pra expulsar o que não se compreende...
Mas um texto nascido num vômito via msn. Mas que eu considero verdade. A mais absoluta. Quem tiver ouvido pra ouvir, ouça. E entenda.

Faça você também Que gênio-louco é você? Uma criação de O Mundo Insano da Abyssinia
É... Esses testes as vezes funcionam... Puta merda. Tudo a ver com o que tenho escrito e com o provável próximo post, surgido num "monólogo" via msn. Esse sou eu. Van Gogh. Alguém ai tem uma faca pra cortar minha orelha?

sexta-feira, outubro 29, 2004

Aliás, tem alguém aí, ou mais uma vez eu tô sozinho?
Alguém pode me explicar porque um sujieot oube umas 17 vezes uma música cantada por uma mulher(?) que ele não gosta, escrita por dois cara que ele não curte muito?

terça-feira, outubro 26, 2004

Alguma coisa estava errada. A princípio ele não sabia o que era. Parecia que as cores estavam menos cores, as coisas menos coisas. Achou que tinha sido efeito de uma noite mal dormida, com algumas latas de cerveja e a luta habitual para acordar para ir ao trabalho. No almoço, a coisa piorou. Não é que a comida não tivesse gosto. Mas parecia que o gosto se desfazia a cada garfada que dava e que a própria comida se digeria antes de chegar ao esôfago. Levantou mais faminto do que antes e pagou a conta a uma mulher opaca e meio apagada que estava no caixa. A primeira coisa que notou que havia sumido foi o botão do elevador. Ele trabalha num prédio com 11 andares, mas o último não estava lá. Alguém pediu por ele no elevador e a ascensorista apertou o vazio, como se não tivesse se dado conta. Subiu junto com o elevador até lá, viu o display interno acusar o 11º. A porta abriu. Tudo estava lá. O andar, as pessoas, os telefones tocando. Menos o botão.
Acorda no outro dia banhado em suor, um calor insuportável. Abre os olhos e nota que o ventilador sumiu. A lâmpada, a estrutura, a fiação, tudo está lá, menos as pás. O susto o faz pular da cama e a cabeça gira com um corpo num ambiente sem gravidade que precisa da rotação pra manter o equilíbrio. Não existe fissura, nem ranhura. Apenas não está. No desespero, toma uma ducha fria, enfia a roupa e vai pro trabalho. Prédios, postes, um posto, uma passarela. E até um viaduto parecem que estão sumindo. Algumas partes já não existem. As pessoas parecem que não notam. Os carros passam por cima do vazio do viaduto sem cair, pessoas atravessam o nada das passarelas. O elevador do prédio só marca agora até o sétimo. Mais uma vez a ascensorista aperta o vazio e ele sobe. Nada. O andar sumiu. Pessoas saem do vazio, pessoas entram no vazio e ninguém parece notar nada. Ele dá umas dez voltas no elevador até notar o olhar intrigado da ascensorista e notar seu próprio olhar de desespero no espelho. Ao virar pra falar, gritar, sacudi-la, ela não está mais lá.
Acorda num leito de hospital. Um médico o observa. Perguntas de praxe. Ele tenta responder da maneira mais racional possível. Ele o olha num misto de pena e escárnio, escreve algo em sua prancheta e chama a enfermeira. Um alívio quente toma conta dele até que ele nota que o leito que ele está deitado não existe. Por baixo do lençol, a não existência o sustenta. Foge, e fugindo dá se esbarra em pessoas sem cabeça, sem pés, sem olhos que andam, falam e vêem. Corre pelas ruas sem ruas. As coisas parecem ser vistas através do vapor gerado pelo sol no asfalto. Para acuado num canto, numa viela onde a luz do dia não alcança e nota, pouco a pouco os prédios se desmancharem em vários fragmentos que giram cada vez mais rápido até desaparecer. O mundo se desmancha, se consome e parece não se tocar disso. Assustado, cansado, com fome, encontra um casebre onde ele sabia que não existia. A nitidez contrasta com todo o resto. Deita e dorme.
Acorda. Vazio. Nada. Nem frio nem calor. Nem claro nem escuro. Apenas a casa e o vazio. É como estar imerso numa massa fluída de pensamentos não concluídos. Quando sua mente ameaça entrar em colapso ele a vê. Lá ao longe. Uma sombra. Corre desesperado ao seu encontro. E ela está lá. O rosto conhecido. O Rosto. O Rosto de pele clara com as maçãs proeminentes, enquadrado pelos cabelos negros sempre o fizeram lembrar da lua cheia com a noite ao redor. E aqueles olhos. Bastavam eles para trazer a luz de volta. Estendeu os braços para aninha-la, para a reencontrar. Ela sorriu tristemente, esboçou um adeus e foi-se numa implosão silenciosa e seca. Ele olhou pra trás e viu a pequena casa afundar. O que restava do seu mundo se desfazia. E ele estava só no vazio.

domingo, outubro 24, 2004

Quarto dia seguido que vejo o sol nascer. Bala. Noite bones do gugu. Valeu Reurê.

sexta-feira, outubro 22, 2004

Um dia a faca andava distraída. Sem quê nem pra quê, conheceu o pescoço. A faca gostou do pescoço e o pescoço gostou da faca. O pobre do pescoço não conhecia pra que servia a faca. A pobre da faca, não sabia que podia cortar o pescoço. Ou sabia. Mas a faca, mesmo gostando, ficou com medo do pescoço. E fugia, e o pescoço ia, e fugia e o pescoço ia. Um dia, cansada de fugir, a faca parou. E o pescoço, cansado de correr, nela deitou. Mergulhou. hoje o pescoço é só um toco e a faca ainda é uma faca, sangrando o sangue do pescoço. Mas na faca, ainda sobrou um pedaço do pescoço. O palhaço do circo sem futuro. Mas ainda estou vivo. Ninguém me acertou um tiro.

quinta-feira, outubro 21, 2004

Porque aquele filho da puta que me assaltou não me matou, caralho??!? Por que merda eu não reagi e tomei um tiro nas fuças?!!? Morto sempre é valorizado. Sempre é exaltado. Sempre vale alguma merda. Mesmo que seja no mercado negro de orgãos. Porque caralhos ele não me matou, porra!!!

terça-feira, outubro 19, 2004

As vezes acho que sei qual o meu problema... Sabe quando vc acorda durante a noite, olha pro lado e vê sua mulher, namorada, amante, caso, sei lá o que dormindo do seu lado, com o cabelo desgrenhado, mau hálito, sem maquiagem, aquela boca mole semi aberta deixando escorrer um fio de baba, eu penso: Isso é a coisa mais linda do mundo... Sem ironias, sem sarcasmos. É quando eu sou capaz de passar horas velando seu sono, olhando pro seu rosto e achando essa cena a visão mais linda do mundo. Sem lápis no olho, escova no cabelo, roupas bonitas e essas merdas. Ali está você em estado bruto, em matéria primária. Ali está você em você. E é de você que eu gosto. Não é dos acessórios. Não é da sombrancelha feita. Não é do cabelo que foi seco preso pra ficar no lugar. É na plenitude do seu ser, que se encerra na visão do seu sono. É em você por você. E é você por você quem eu quero. ///

quinta-feira, outubro 14, 2004

The other side of time... Must be sacrificed. Must be Crucified. Must have pain. The other side of time... Few have reached. None have come back. People see, but don`t understand. The other side of time... When you get there, you will be vanished. Nobody will remember, nobody will miss, nobody will know. The other side of time... When you get there, don`t forget to look back. You must see how times keep running, how people keep living, how souls keep dying. No sing that you have gone. The other side of time...

quarta-feira, outubro 06, 2004

Inaceitável. Uma fresta no sistema. Nem bom, nem ruim, apenas uma situação atípica num sistema acostumado à rotina da previsibilidade. Uma falha na matrix, um desbalanceamento da equação. A quebra do padrão, onde o padrão é a garantia de segurança, onde o protocolo evita ao máximo os sobressaltos do passado. Um não-padrão imprevisto, numa realidade onde a segurança é perseguida e forjada através da previsibilidade da padronização. Ele representa a falha. Expõe a debilidade e a falta de preparo do sistema de lidar com situações que não são prévia e meticulosamente conhecidas. Pacientemente, espera. E só. Apenas espera. Tenta se tornar "aceitável" de todas as maneiras. Mas a sua Nova York está fechada para ele. As suas tentativas são vãs. Como um órgão mal transplantado, ele é “sistematicamente” rejeitado pelo organismo receptor, que tenta expulsar o invasor. Na ficção, os finais são felizes. Aqui os sistemas de padrões são implacáveis, ele voltará para casa, expulso, eliminado, destruído, com sua lata da pasta de amendoim na mão. E a rotina da previsibilidade daria novamente estabilidade ao sistema. E para o bem estar desse funcionamento, a lembrança da falha seria eliminada dos seus registros...
"Então o homem, flagelado e rebelde, corria diante da fatalidade das coisas, atrás de uma figura nebulosa e esquiva, feita de retalhos, um retalho de impalpável, outro de improvável, outro de invisível, cosidos todos a ponto precário, com a agulha da imaginação; e essa figura, -- nada menos que a quimera da felicidade, -- ou lhe fugia perpetuamente, ou deixava-se apanhar pela fralda, e o homem a congia ao peito, e então ela ria, como um escárnio,e sumia-se como uma ilusão."

Brás Cubas