segunda-feira, agosto 22, 2005

Texto escrito as pressas no msn. Perdoem-me.
Ele não exatamente acordou. Apenas levantou-se da cama como de costume. Há tempos não dormia nem ficava acordado. Vivia naquele estado confuso entre a consciência e a Liberdade. Tudo começou mais ou menos quando ele parou de ver as cores. Elas foram se desfazendo, granulando-se, se apagando, implodindo impiedosamente nos seus próprios espectros. Ele observava a lenta agonia das cores com indiferença, apenas aguardando o momento em que finalmente iriam morrer em si mesmas. E o mundo explodiu em preto e branco. O mundo, as coisas, as pessoas. Tudo havia se tornado cinza e real. Eventualmente, um ponto mais escuro do que os outros escuros surgia em seu campo de visão. ele, em vão, tentava focalizar os olhos mas o negrume fugia e escorregava da sua existência. Mas em seu mundo cinzento, algo havia sobrevivido. Ao fim do dia, como um sonâmbulo, ele fugia para a explosão de cores do sol se pondo. Sentava num banco, a beira-mar e voltava seus olhos castanhos pro sol e se deixava banhar na luz desesperadora da morte revivida. Então aconteceu. No princípio de um pôr-do-sol indefinido, em canto quase fugido da sua visão, o ponto negro surgiu e caminhou, inadvertidamente em sua direção. Parecia que caminhava a esmo e seguia em sua direção como se estivesse sem rumo. Ele virou-se de frente pro desconhecido e esperou. De alguma forma ele sabia. O sol, no seu caminho de lamentações, vomitou as cores que, desta vez, o deixaram meio cego e, de alguma forma, haviam devolvido sua consciência, perdida há tempos. No contrate entre o mundo cinzento e o crepúsculo, o negrume foi se desfazendo, escorregando para o chão e Ela surgiu. Seus olhares se procuraram. Os olhos Dela, ele notou, eram iguais aos seus. Castanhos, profundos e vivos. Então fez-se o Silêncio. O mundo parou, as pessoas sumiram, a luz se fez mais presente e A coloriu, pouco a pouco, como uma aquarela cuidadosamente trabalhada por algum mestre esquecido. Apenas se ouvia, ao longe, o barulho do mar Ela recuou um passo, assustada. Ele deu um passo a frente. Ela sorriu, em sinal de reconhecimento, e moveu-se em sua direção. Se encontraram no momento derradeiro das luzes, Ela tocou seu rosto delicadamente e, com os dedos, arrancou-lhe os olhos e os jogou no mar. E ele morreu afogado na escuridão.

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