sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Ele vinha andando pela rua, meio distraído. Na esquina, parou pra acender um cigarro. O vento fazia dançar a chama do isqueiro, então ele se virou, colocou as mão em concha e a viu. Ao mesmo tempo em que ela o viu. Trocaram olhares, ele soltou uma baforada e ela sorriu, o sorriso mais cândido que saiu dos lábios de alguém pra ele (Algumas pessoas sorriem com os olhos, outras com as mãos, outras com o corpo todo. Enfim...). Ele sorriu de volta e ela, meio encabulada, fez aquele típico gesto de "É comigo?". Ele, sem acreditar, respondeu num gesto que achou que deveria dizer "É claro", mas logo se arrependeu por achar que poderia parecer desesperado demais. Mal podia acreditar. Logo ele, um homem cinzeiro, sem graça, sem predicados, que ninguém nunca havia reparado de fato que existia no planeta. E ela. ELA. Algo que era presente no mundo, que se podia sentir, mesmo a distância, que EXISTIA. Trocaram sorrisos mais uma vez e ela deu o primeiro passo em direção a calçada oposta, onde ele dava mais um trago no cigarro. Ele repetiu seu gesto. Vindo de algum canto do destino, um ônibus não gostou daquele encontro e a atingiu, primeiro em sua testa, depois em todo o resto, espalhando seus miolos, membros, rins e tudo mais pelo meio da rua. Uma parte do aparelho digestivo veio aterrisar nos sapatos, lustrados, dele. Ele olhou com um misto de pena e resignação, bateu o sapato no chão, deu o último trago no cigarro, e virou, contrário a multidão que se aglomerava, em direção ao escritório.

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