terça-feira, janeiro 25, 2005

Nos últimos instantes de sua vida, ele não estava com medo. Estava enojado. Morrer daquela forma só mostrada a realidade da condição animal dos que se pretendem o topo da evolução universal. A condição de nada, de coisa alguma, a proximidade dos homens com qualquer animal imundo a vida toda, mas que na hora da cópula executava uma dança tola qualquer fingindo ser menos podre. A vida se resumia em foder, cagar e dominar. Ali, às portas do abismo, as máscaras eram inúteis. Ali o grotesco do simulacro humano adquire a mais clara expressão do patético. As grandes aspirações da espécie não passam de uma tentativa de fugir do seu próprio ridículo. Nunca tinha pensado muito em deus. Sentindo as últimas convulsões da sua agonia desejava do fundo do pensamento que aquela história de vida ulterior fosse mais uma das crenças criadas para que a humanidade pudesse suportar melhor o peso da sua condição. Rezou, a primeira reza da sua vida, pra que deus não existisse. Riu da ironia, do seu último momento de humanidade, e no meio do sorriso veio o último espasmo. Seu pescoço se contraiu, obrigando-o a olhar pra cima, e o vômito veio, espalhando em seu rosto. Curvou-se de dor sobre seu abdômen, seus esfíncteres relaxaram, expulsando seus últimos resquícios de vida e caiu morto, mergulhando em sua própria merda.

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