segunda-feira, agosto 19, 2002

Eu a pensava esquecida. Achei que a tinha derrotado no seu joguinho. Achei que seu medo agora era maior e ela seria mais cautelosa. Nosso último encontro, foi estranho, perturbador. Depois, ela fugiu e se escondeu, num lugar inacessível. E eu não iria procura-lá. Passamos um tempo sem qualquer tipo de contato direto. Apenas indícios. E eu, satisfeito, segui minha vida, não esquecido, mas aliviado. Não. Nunca mais a veria. Ela tinha medo. Eu havia mostrado quem eu realmente era. E isso a tinha assustado. Estava escorregadia, esquiva. As vezes eu pensava onde ela poderia estar. Me assustava a ideia de um possivel encontro inesperado, quando eu tivesse com a guarda baixa e sem condições de reagir. Sim. ela ainda me assustava. Apesar da minha aparente sensação de vitória, sua sombra ainda me perseguia. Ainda me rondava. Principalmente a noite. Esse era o pior horário. Era quando mais pensava nela e sentia medo. Me sentia só e indefeso em casa. Apesar da minha carta na manga, do meu trunfo final. Apesar de saber que esse trunfo era definitivo e que, se fosse usado, selaria o nosso destino. E eu aguardava o encontro final. Acho que, no fundo, queria logo encontra-lá pra acabar de vez com isso e respirar mais aliviado. Pra sua presença, ou a sombra dela, não mais me incomodar. Pra apaga-lá de vez da minha mente. Sim, eu queria isso. Queria esse encontro. Mas ele continuava desaparecida. Continuava na sua reclusão e silêncio. Aquilo era uma tortutra. Talvez fosse mais uma de suas táticas. A demora me deixava mais ansioso e ela sabia que quando a encontrasse, eu estaria com pouco controle sobre minha lucidez. Logo me desesperaria, e então ela agiria. Mas, além de ansioso, a espera ia apagando a lembrança. As sensações, emoções, medos angustias e até mesmo sua fisinomia iam aos poucos sendo apagadas da minha memória. Agora, ela era apenas um pensamento vago que vinha esporadicamente. E me ria: "Como pude? Como pode me deixar tão desnorteado? Logo eu!!! Zeba!! Hahaha!". Mas então, eu a vi. Da sua maneira típica, apareceu do nada. Inesperadamente. E eu gelei. Toda aquela torrente de emoções voltou de uma vez. Me senti tonto, atordoado. Não sabia o que fazer. Mais uma vez, ela me pegara com a guarda baixa. Mas ela não tinha me visto. Estava de costas, e não notou minha presença. Eu a observava, medindo seus movimentos, tentando recobrar o controle e pensar no que fazer. Lembrei de como ela me fez de palhaço e depois sumiu. Uma raiva surda começou a se misturar com o medo. Sim era hora. Esperei aquele encontro muito tempo. Eu tinha pensado e repensado a minha tática milhões de vezes, pra que dessa vez, nada falhasse. Tudo deveria sair como o planejado. E, aí sim, eu serei o vencedor definitivo. Ela ainda não me vira. Ou me vira, mas não tinha se dignado seuqer a me olhar de frente, tamanho era o seu desprezo por mim. Mesmo de costas, eu sabia que era ela. A teria reconhecido em qualquer lugar do mundo, tamanho o trauma que me causou. Recuei um pouco, pronto pra por um fim naquilo. Estava calmo de novo. Meu raciocínio era meu de novo, não mais dela. E foi então que percebi a soridez da sua mente: Ela estava justamente entre mim e sua derrota final. Num posicionamento perfeito, me impedindo completamente de dar o golpe de misericóridia. Fiquei paralisado. Perdi novamente o tino. "O que farei?". Como ela podia ser tão cruel? Porque fazia isso comigo? Sentia os pés gelados, com o contato com o chão da cozinha. De onde estava, podia ver o tubo da salvação e no seu rótulo a única coisa que lia era: "Mata baratas na hora." Mas ela estava no meio do caminho. Pensei em usar a tática anterior, mas lembrando do rídiculo que passei, resolvi preservar minha dignidade. Não, dessa vez não. Aquela era minha casa, minha cozinha. Ela era a invasora e eu não iria ser derrotado mais uma vez por um mísero inseto. Eu era maior, era mais forte e estava no meu território. Cautelosamente, avancei, disposto a passar por cima dela, sem levantar suspeitas, seguir até a área de serviço, pegar o inseticida e destruir de uma vez aquela vida miseravel e nojenta que desafiava minha dignidade. Com os movimentos mais suaves que me corpo pode produzir, passei por ela com o pavor de um possível ataque aos meus pés, mas ela nem se mexeu. Avancei pra área, aliviado, mas sempre olhando sobre o ombro, com medo de um ataque pela retaguarda. Cheguei na áera, subia num banco, peguei o tubo. Há!!! Agora era minha vez!! Agora eu era o dominador! Agora, sua vida estava em minhas mãos!! Empolgado, pulei do banco, me virando na direção dela, dedo no gatilho, pronto pra destrui-la por completo. Morra!!!! Mas ela havia sumido...



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